(por Sylvio Lazzarini)

 

Houve tempos em que os gaúchos matavam reses, tiravam o couro e deixavam as carcaças largadas nos pastos nativos. A abundância era tanta que os tropeiros sacrificavam uma ou outra novilha durante suas viagens para alimentar a comitiva que levava gado do sertão para os abatedouros.

O baixo custo para se criar gado no Brasil sempre propiciou às camadas de baixa renda da população a oportunidade de se reunirem em torno de uma grelha para comer carne. Isto fez com que o churrasco ganhasse o “status” da unanimidade, tornando-se uma verdadeira paixão nacional e talvez a maior expressão da comida “made in Brazil”.

Para aqueles que descreem dessa afirmação, basta pegar uma estrada, em qualquer um dos finais de semana, e constatar a quantidade enorme de chaminés das casas de praia e de campo que exalam aquele cheirinho peculiar e gostoso de carne sendo assada. E mais:  hoje em dia, em quase todas as plantas de lançamento de apartamentos de classe média para cima, oferecem-se o “espaço gourmet”, onde se encontra a indispensável e bem montada churrasqueira.

Entretanto, diversos fatores vêm indicando que este maravilhoso hábito de bem estar e convivência está com os dias contados, uma vez que o preço das carnes nobres ou especiais irá para as alturas, inviabilizando o seu consumo.

Isto vem acontecendo devido ao surgimento dos chamados países emergentes, especialmente a China e a Índia, cujas economias vêm apresentando fortes taxas de crescimento, fazendo crescer a renda doméstica, o que aumenta a demanda por alimentos nesses países. Milhões de novos consumidores demandando carnes bovinas em todas as formas de consumo. Para complicar, temos a produção do biocombustível, o etanol, advindo da cana-de-açúcar, no Brasil, e do milho nos EUA.

Alguns analistas mais otimistas dizem que a prática de uma pecuária intensiva, como aquela praticada nos Estados Unidos, suprirá a parcela de bois que antes sobravam nas pastagens, mas que hoje não são mais vistos nas paisagens do interior. Eu não posso concordar e por uma razão muito simples: 100 kg de milho, servidos como ração, produzem 69 kg de carne de peixe; 57 kg de frango; 36 kg de suíno e somente 10 kg de carne vermelha. Em razão disso, com o preço do milho nas alturas, como já se discutiu e provou, a carne bovina desaparecerá da dieta de todos os povos de média e baixa renda.

Também quem é adepto da alta gastronomia será afetado, pois em um futuro bem próximo certamente pagará o olho da cara por uma suculenta picanha. Será uma relíquia gastronômica, o bacalhau dos pastos, à luz e semelhança daquele pescado nos mares da Noruega. Coisa para gente endinheirada apreciar.