Em 30/01/1996, há  24 anos, bem perto da fundação do Varanda Grill, escrevi em parceria com Sergio Lazzarini, meu filho mais velho, e Fabio Santomauro Pismel um artigo que foi publicado no jornal o Estado de São Paulo, que versava sobre as necessidades de se imprimir mudanças radicais no processo de produção e comercialização no segmento da carne bovina brasileira. Dizíamos em determinado trecho do artigo que o gado que fazia parte dos estoques de comerciantes (ávidos por especulação) está passando para o estoque dos verdadeiros produtores, o que, em longo prazo, deverá gerar ganhos de produtividade no rebanho brasileiro”.

E foi o que efetivamente acabou acontecendo. Mudanças radicais foram adotadas no processo de produção. Raças bovinas europeias, já outrora introduzidas nos Pampas Gauchos,  especialmente aberdeen angus, foram sendo melhoradas e espalhadas pelo Brasil Central, mediante cruzamento  com a raça nelore.  O nelore, base do nosso rebanho, evoluiu também, no mesmo período, de forma espetacular. A qualidade da carne, em consequência,  melhorou muito e conseguimos, em poucos anos, elevar consideravelmente a produtividade geral de grande parte do rebanho brasileiro, que se expressa em mais carne produzida por unidade de área ou hectare.

Diferente de outros  setores da economia brasileira,  a pecuária avança aceleradamente neste processo de melhoria continua da produtividade e geração de valor para toda a cadeia produtiva; e, em especial, para os consumidores  brasileiros tanto em qualidade como em preços mais justos.

Graças a este trabalho, sem praticamente nenhuma intervenção e ajuda governamental, conseguiu-se ocupar, em pouco tempo, o espaço deixado pela pecuária Argentina que, ainda hoje, caminha na contramão da história. Como se sabe, a produção pecuária argentina que, em passado recente, representava a pujança do sistema agroindustrial daquele país, está em queda. Há desanimo generalizado no campo.  Graças à medidas populistas, impostas, lá atrás,  por Guilhermo Moreno, Secretário de Comercio Interior do Governo Nestor Kirchner, baixou-se portarias determinando controles na  produção e exportação, com o falso argumento de que “é  necessário controlar a oferta doméstica para garantir preços acessíveis à população”.

E tem mais: pecuaristas posicionados em terras de grande qualidade,  na Província de Buenos Aires, trocaram suas atividades pela produção de grãos.  Com isto, a vantagem relativa do país vizinho em produzir carne de grande qualidade esvaiu-se, sobrando tão somente alguns nichos para atender mercados  mais exigentes.

Com isto, abriu-se uma oportunidade imensa para os produtores brasileiros. E estes estão aproveitando. Quiçá toda a dificuldade para se produzir carne de altíssima qualidade no Brasil, devido a fatores climáticos e outras intempéries, a produção de carne de qualidade superior avança, graças ao trabalho extraordinário de abnegados pecuaristas.

Interessante observar que poucos são os críticos gastronômicos locais que reconhecem este trabalho. Alguns até pensam que as carnes oferecidas pelos grandes distribuidores são importadas da Argentina. Impressionante a desinformação.

Por este motivo é preciso levar ao conhecimento dos consumidores brasileiros a pujança do setor agropecuário, que envolve toda uma cadeia de produção e distribuição. Este setor, que tem contribuído para o aumento do PIB, como hoje se verifica,  recebe criticas não fundamentadas de setores radicais – MST por exemplo – e mesmo ambientalistas.

Estes grupos, mal informados, desconhecem, aliás, qual a real dificuldade de se produzir carne de alta qualidade no Brasil. Parecem ignorar  que isto envolve investimentos maciços em genética, adubação continua de pastagens, produção de silagens, divisão de pastos, suplementação mineral, entre outras atividades. Não sabem, por exemplo, que hoje está em muita evolução a IPFL – Integração Pecuária, Floresta e Lavoura, programa criado pela EMBRAPA, e muito bem defendido pela nossa atual Ministra da Agricultura e Pecuária, Dra Tereza Cristina. A pecuária não é responsável pelas queimadas. Há que se buscar os verdadeiros culpados e, dai, processo crime.

Estamos já exportando carne para os EUA. Importante mercado e referencia mundial. Em breve estaremos, também, presentes em outros mercados mais sofisticados, como o japonês,  o que permitirá valorização permanente e reconhecimento ao trabalho executado pelos nossos produtores.

Como dito há quase vinte anos, no artigo citado no preambulo deste: “a tecnologia deve se colocar a serviço da rentabilidade, nunca o contrário. Sob este aspecto, deve-se procurar não apenas maximizar produtividade. É preciso maximizar lucros para produzir, não para especular. Neste sentido,  a escolha da tecnologia mais adequada às particularidades de uma propriedade, sendo capaz de gerar o maior lucro, é a verdadeira tecnologia de ponta. Somente com um satisfatório resultado econômico-financeiro é que o processo produtivo ganha fôlego.
Este tem sido o grande paradigma da produção pecuária brasileira: foco permanente em produtividade e melhoria continua da qualidade. O avanço é inexorável.

 

SYLVIO LAZZARINI é empresário do setor de serviços e CEO da Intermezzo Gourmet, empresa especializada na distribuição de carnes de alta qualidade.